Brasil participa de reunião internacional em Madri que cobra fim da guerra em Gaza e discute sanções contra Israel
Publicado em 27/05/2025 às 13:37

Foto: Freepik
O Brasil participou neste domingo (25) de um encontro internacional realizado em Madri, na Espanha, com representantes de 19 países para debater medidas de apoio à Faixa de Gaza e formas de pressionar Israel a encerrar a guerra no território. Uma das propostas discutidas foi a possibilidade de impor sanções ao governo israelense.
O foco da reunião foi também a viabilização da chamada solução de dois Estados — um israelense e outro palestino — proposta que é sistematicamente rejeitada por Israel. A iniciativa foi liderada pelo governo espanhol e contou com a presença de chanceleres de países como Alemanha, Portugal, Reino Unido, Irlanda, Turquia, Itália, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Catar, Bahrein e Marrocos.
Representando o Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou a inação da comunidade internacional diante das mortes de civis em Gaza.
“Ninguém poderá alegar desconhecimento sobre as atrocidades em curso, transmitidas diariamente ao vivo pelos meios de comunicação. Nenhum interesse nacional, nenhuma consideração de política doméstica justificam o silêncio diante de crimes que erodem os alicerces do ordenamento jurídico internacional”, afirmou Vieira.
Segundo o Itamaraty, o encontro também serviu como preparação para a Conferência sobre a Questão Palestina, marcada para os dias 17 a 20 de junho, na sede da ONU, em Nova York. O Brasil deverá coordenar um dos grupos de trabalho da cúpula.
Resistência de Israel
Em julho de 2024, o parlamento israelense aprovou uma resolução que se opõe formalmente à criação do Estado palestino, classificando a proposta como uma ameaça à existência de Israel. A posição do governo israelense tem dificultado qualquer avanço diplomático nesse sentido.
O professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Mohammed Nadir, avaliou que o encontro em Madri foi “ousado e corajoso” e representa um marco nas relações entre países da União Europeia (UE) e Israel.
“Quebra aquela relação de vassalagem cega da União Europeia para com Israel. Mas tenho sérias dúvidas se isso pode se concretizar, porque muitos países vão continuar fornecendo armas a Israel de forma pública ou secreta”, afirmou o professor.
Propostas de sanções
O chanceler espanhol, José Manuel Albares, defendeu a suspensão do acordo entre a União Europeia e Israel, um embargo à venda de armas e sanções individuais contra figuras que atuem contra a criação do Estado palestino.
“Gaza é uma ferida aberta na humanidade. Não há palavras para descrever o que está acontecendo agora em Gaza, mas a ausência de palavras não significa que devamos permanecer em silêncio. O silêncio neste momento é cúmplice”, declarou Albares.
Ele também argumentou que países europeus devem revisar suas listas de sanções para impedir o avanço de interesses contrários à paz e à solução de dois Estados.
Entre 2019 e 2023, os principais fornecedores de armas a Israel foram os Estados Unidos (69%), Alemanha (30%) e Itália (0,9%), de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo (SIPRI). Após os ataques do Hamas em outubro de 2023, os EUA intensificaram o envio de armamentos a Israel, inclusive com entregas emergenciais de bombas guiadas, segundo o instituto.
Impactos da guerra
Apesar de uma pequena liberação recente de ajuda humanitária, com entrada de apenas 100 caminhões, a situação humanitária em Gaza continua crítica. Antes da guerra, cerca de 500 caminhões com suprimentos entravam diariamente no território.
A ONU alerta que a fome provocada pelo bloqueio israelense pode levar à morte dezenas de milhares de pessoas, em uma população já quase totalmente deslocada por bombardeios.
Contexto histórico
A origem do conflito remonta à criação do Estado de Israel, em 1948, quando mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas terras. Até hoje, a criação de um Estado palestino, prevista por resolução da ONU, nunca se concretizou. Após a dos Acordos de Oslo, em 1993, havia a expectativa de uma solução pacífica com a criação de dois Estados, mas os compromissos não foram cumpridos e a ocupação da Cisjordânia por colonos israelenses só aumentou — medida considerada ilegal pelo direito internacional.
Em 7 de outubro de 2023, o grupo Hamas realizou ataques em vilarejos israelenses, matando cerca de 1,2 mil pessoas e sequestrando 220. A ação foi apresentada como resposta ao bloqueio de 17 anos imposto a Gaza e à contínua ocupação da Palestina. Em reação, Israel iniciou uma ofensiva militar sem precedentes no território, matando mais de 53 mil pessoas e forçando o deslocamento da maior parte da população civil. Na Cisjordânia, mais de 40 mil pessoas também já foram expulsas de suas casas.
Fonte: Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil