Governo brasileiro não consegue retirar palestina com histórico de vida no Brasil da Faixa de Gaza
Publicado em 22/05/2025 às 13:34

Foto: assmaa_rajab/Instagram
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou à Agência Brasil que não tem conseguido viabilizar a retirada da palestina Assmaa Adbo Eldijan, de 38 anos, da Faixa de Gaza. Ela viveu por 16 anos no Brasil e tem feito campanhas nas redes sociais na tentativa de deixar o território, devastado por bombardeios de Israel.
De acordo com o Itamaraty, o governo brasileiro só pode negociar a saída de cidadãos brasileiros ou de parentes de primeiro grau de brasileiros. “Esse requisito também é exigido pelas autoridades dos países envolvidos na autorização das evacuações”, explicou o MRE.
A pasta ressaltou que reconhece a gravidade da crise humanitária na região, mas lembrou que qualquer retirada de civis depende de negociações complexas com múltiplos países, que precisam aprovar as operações de evacuação.
Nesta semana, o Itamaraty coordenou a saída de 12 pessoas da Faixa de Gaza, entre brasileiros e familiares. Desde outubro de 2023, o governo brasileiro já retirou 127 pessoas do enclave palestino.
Campanha nas redes sociais
Assmaa fala português fluentemente e tentou ser incluída na operação mais recente. “Eu teria salvado minha vida, a vida dos meus filhos e o futuro deles”, desabafou.
Ela relatou que viveu no Rio de Janeiro dos 4 aos 20 anos, mas não tirou a nacionalidade brasileira. Seus pais nasceram em Gaza e migraram para os Emirados Árabes Unidos, onde ela nasceu. Mais tarde, a família se mudou para o Brasil, seguindo os tios que já estavam no país.
“Desde a infância até a adolescência morei no Brasil. Depois, por questões familiares, viemos para Gaza. Foi muito difícil me adaptar, mesmo sendo palestina”, contou. Casada, Assmaa tem quatro filhos: uma menina e três meninos.
Segundo ela, embora tenha documentos do Brasil, sua família nunca formalizou o pedido de nacionalidade. “Por que eu não sou brasileira? Por causa de um papel? Vivi 16 anos no Brasil, tenho amigos, meu perfil é igual ao de milhares de brasileiros”, argumentou nas redes sociais.
Crise humanitária se agrava
Assmaa relata extrema dificuldade para encontrar comida e água. “Acordo todos os dias enfrentando os mesmos problemas: correr atrás de água potável, procurar alimento. Não é só questão de dinheiro, é que não há o que comprar. As fronteiras estão fechadas, não tem comida”, disse.
Desde 2 de março, Israel bloqueia a entrada de ajuda humanitária em Gaza, agravando a fome entre a população. A região está sob ataques desde outubro de 2023, e estima-se que 90% dos moradores tenham sido deslocados pelos bombardeios.
Nesta semana, Israel autorizou a entrada de apenas 100 caminhões com suprimentos — uma fração dos cerca de 500 caminhões diários que abasteciam o território antes da guerra, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA) alertou que a situação é crítica: “Organizações humanitárias relatam níveis extremos de fome, queda acentuada na variedade dos alimentos disponíveis e aumento de casos de desnutrição aguda entre crianças. Menos de 300 mil refeições estão sendo preparadas diariamente em cozinhas comunitárias”.
Fonte: Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil