Saúde lança campanha contra fumo e reforça proibição de cigarros eletrônicos
Publicado em 28/05/2025 às 15:02

Foto: Walterson Rosa/MS
Para cada R$ 1 de lucro gerado pela indústria do tabaco no Brasil, o Governo Federal gasta R$ 5 com o tratamento de doenças relacionadas ao fumo. Os dados integram o estudo “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta”, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), apresentado nesta quarta-feira (28) pelo Ministério da Saúde durante evento realizado na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília, em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio).
Reconhecido internacionalmente pelas políticas públicas de controle do tabagismo, o Brasil também lançou a campanha “Sem Cigarro, Mais Vida”, com foco em conscientizar principalmente os jovens sobre os riscos do cigarro, incluindo os dispositivos eletrônicos e cigarros com aditivos.
“O cigarro continua sendo extremamente nocivo. Ele adoece, mata, sobrecarrega o sistema público e afeta a economia ao reduzir a capacidade de trabalho. Combater o tabagismo é uma responsabilidade de toda a sociedade brasileira”, declarou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Além de apresentar os impactos sociais, econômicos e sanitários do tabagismo, o evento reforçou as estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde para combater o uso de produtos derivados do tabaco. Entre 2022 e 2024, houve um expressivo aumento nos atendimentos voltados à cessação do tabagismo pelo Sistema Único de Saúde (SUS):
- As terapias cognitivo-comportamentais saltaram de 42,3 mil para 83 mil atendimentos (+96,4%);
- A participação em atividades coletivas cresceu de 124 mil para 266 mil pessoas (+114%);
- As visitas domiciliares aram de 1,28 milhão para 2,25 milhões (+75%);
- As consultas clínicas aumentaram de 13,6 milhões para 14,4 milhões (+5,6%).
Os resultados refletem o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde, com foco em cuidado humanizado, apoio psicológico e orientação clínica.
Em maio, durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, o Brasil recebeu reconhecimento internacional pelas políticas de controle do tabaco. O destaque foi para a inclusão dos chamados “impostos saudáveis” na Reforma Tributária, que incidem sobre produtos nocivos à saúde, como o cigarro.
“Aumentar o imposto sobre cigarros reduz o consumo, especialmente entre os jovens. Não há relação entre isso e o aumento do contrabando”, afirmou Padilha. “Somos referência global no combate ao tabagismo porque enfrentamos a indústria com coragem e políticas públicas eficazes”, completou.
Lucro da indústria versus mortes evitáveis
De acordo com o estudo, em 2019, cada R$ 156 mil de lucro da indústria de tabaco no Brasil com a venda de cigarros legais equivaleu a uma morte por doenças relacionadas ao tabagismo, como infarto, AVC, DPOC e câncer de pulmão.
O custo médio de cada morte atribuída ao fumo é de R$ 361 mil (direto) e R$ 796 mil (total). Isso significa que, para cada R$ 1 de lucro obtido pela indústria, o país gasta R$ 2,30 com tratamento direto e R$ 5,10 com os custos totais (diretos e indiretos).
“É essencial mensurar esse impacto para responsabilizar a indústria do tabaco. Parte do lucro obtido é reinvestido para atrair jovens ao vício, gerando futuros custos à sociedade”, afirma o pesquisador do Inca, André Szklo.
Tabagismo custa R$ 153,5 bilhões por ano ao Brasil
O Inca também aponta que o tabagismo gera um custo anual de R$ 153,5 bilhões ao país — valor que representa 1,55% do PIB. Desse total, R$ 67,2 bilhões são gastos diretos com tratamento de doenças como câncer, doenças cardíacas e AVC, enquanto os custos indiretos, como perda de produtividade e mortes prematuras, somam R$ 86,3 bilhões.
Por outro lado, a arrecadação federal com impostos sobre o setor somou R$ 8 bilhões em 2022, o que cobre apenas 5,2% dos custos totais provocados pelo tabaco.
Atualmente, o tabagismo é responsável por 477 mortes por dia no Brasil — o que equivale a 174 mil mortes evitáveis por ano. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), cânceres diversos, infarto, AVC, diabetes tipo 2 e fumo ivo estão entre as principais causas.
Cigarros eletrônicos preocupam autoridades
Mesmo proibidos no Brasil desde 2009, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), também chamados de vapes ou cigarros eletrônicos, têm atraído adolescentes e jovens com apelo tecnológico e estratégias de marketing agressivas, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Dados da Pesquisa Vigitel 2023 revelam que 2,1% da população adulta brasileira já usou cigarros eletrônicos. Entre jovens de 18 a 24 anos, a prevalência chega a 6,1%. Em resposta, a Anvisa reforçou, em 2024, a proibição da comercialização, importação e propaganda dos DEFs por meio da Resolução RDC nº 855/2024.
“O desafio agora é proteger as novas gerações desses produtos, que visam criar novos dependentes”, afirmou o diretor-geral do Inca, Roberto Gil.
Tratamento gratuito disponível pelo SUS
Atualmente, 9,3% da população brasileira (cerca de 19,6 milhões de pessoas) se declara fumante, com maior prevalência entre homens (11,7%) do que entre mulheres (7,2%).
Para combater esse índice, o SUS oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar. Os atendimentos ocorrem nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e incluem orientação individual e em grupo, além de medicamentos como adesivos de nicotina, goma de mascar e bupropiona.
O serviço é ível em todo o território nacional, bastando procurar a UBS mais próxima ou entrar em contato com a secretaria de saúde local.
Referência internacional no combate ao fumo
O Brasil é um dos países com maior destaque global no controle do tabagismo. Desde os anos 1980, o Ministério da Saúde, por meio do Inca, coordena políticas como a proibição de propaganda de cigarros, campanhas educativas, ambientes livres de fumaça e o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), em parceria com estados e municípios.
Essas ações estão alinhadas à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, da OMS, à qual o Brasil aderiu ainda em sua fase inicial, fortalecendo o protagonismo do país na promoção da saúde pública.
Fonte: Ministério da Saúde