
Arte, Crônicas e Poesia
Uma estrada de violetas
Publicado em 29/05/2025 às 17:39


A vida é esse mistério sem fim – um amontoado de porquês sem respostas constantes e memórias insistentes. Em um solo de sax percorremos tudo: tão rápido, tão intenso, tão envolvente. E, quando percebemos, já estamos na última nota. As sensações que a música causou é tudo que resta.
A vida é como dirigir por uma via à noite, envolta em grande cerração. À nossa frente, só uma luz opaca e a fé de que não sairemos da pista na próxima curva, envolto em tantas incertezas que a única certeza é o dever de prosseguir…
Ao realizar um eio, outro dia, reparei nos rostos e fiquei impressionado em como os olhares estão ausentes e absortos – semelhantes a humanoides na execução fria de suas atividades. Certamente, a vontade está alhures do que de fato estão a executar.
Meu olhar se fixou em um senhor sexagenário, sentado no banco da praça. Tinha um cigarro na mão direita e atenção fixa nas cinzas e fumaça, atento ao dissipar no vento, parecia estar a contemplar o seu próprio desvanecer, frente ao tempo. Apenas a carência traz a ponderação: quando jovens, crentes de ter muito tempo, poucos têm circunspecção sobre o porvir. Majoritariamente é perceptível uma onda de reflexões frívolas. A busca por riqueza material tão constante nos discursos, promessas e metas, parece ser o fim buscado por muitos.
Certa feita fui caminhar pelo bairro e observei uma fila gigante na porta da lotérica e estava anunciado na porta um grande prêmio em dinheiro. Ao me atentar aos diálogos, percebi que estavam sonhando com uma estrada de violetas com tijolos amarelos: um patamar de completude da vida. Uma gigantesca utopia, todavia, confesso ser agradável construir uma realidade que exista plenitude na vida, pois já sabemos que nessa estrada muitas vezes a neblina toma conta e ficamos totalmente atônitos.
Por conseguinte, a estrada é sempre mais leve, com pouca bagagem, principalmente as que levamos no coração. A ansiedade, medo, frustrações, etc. São pedras que inúmeras vezes tropeçamos e caímos, sem saber como levantar, ficamos paralisados.
E quem não caminha já está de certa forma morto.
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